Festas dos Açores

A religiosidade do povo açoreano está bem patente nas muitas manifestações que, ao lon­go do ano e nas diversas ilhas, se realizam, congregando à sua volta alguns milhares de pe­regrinos, muitos deles vindos propositadamente das várias comunidades açoreanas espalhadas pelo mundo em cumprimento de promessas feitas em horas de maior aflição, em agradeci­mento de graças recebidas ou, simplesmente, em romaria de saudade. 

 

 

SENHOR SANTO CRISTO DOS MILAGRES

A maior festa religiosa que se realiza nos Aço­res é, sem sombra de dúvida, a Festa do Senhor Santo Cristo dos Milagres, que tem lugar no quinto domingo após a Páscoa, na cidade de Ponta Delgada, em São Miguel, à qual afluem, na ocasião, milhares de peregrinos que, numa autêntica manifestação de verdadeira fé, de per­to seguem a passagem da imponente imagem do Senhor, incorporada na solene procissão que, durante cerca de três horas, percorre gran­de parte das ruas da cidade, para o efeito ata­petadas com artísticos e coloridos tapetes de va­riadas e perfumadas pétalas de diversas flores. 

A origem da imagem 

No Convento da Caloura, começa a história do culto do Senhor Santo Cristo dos Milagres, em S. Miguel. Foi neste lugar que se erigiu o primei­ro Convento de Religiosas nesta Ilha. Foi neces­sário que alguém fosse a Roma impetrar a res­pectiva Bula Apostólica e então duas religiosas de S. Miguel viajaram á Cidade Eterna. Além de lhes ser dado o tal documento o Sumo Pontífice também ainda lhes ofereceu uma Imagem do Ecce Homo. Como o lugar na Caloura era muito exposto aos piratas algumas religiosas seguiram para Vila Franca e as outras para o Mosteiro da Esperança que havia sido fundado. A Imagem do Senhor não ficou mas acompanhou a Madre Inês de Santa Íria a Ponta Delgada. 

A primeira procissão 

No ano de 1700, a ilha de S. Miguel foi aba­lada por fortes e repetidos tremores de terra. A Mesa da Misericórdia, vendo que os terramo­tos não cessavam, resolveram ir à portaria do Mosteiro da Esperança para levarem em pro­cissão a Imagem do Santo Cristo. No dia 13 de Abril de 1700, juntaram-se, os das confrarias e comunidades religiosas e da nobreza com fé. Na procissão todos iam descalços e logo que a Imagem se deixou ver na portaria, a comoção foi grande. A nobreza é que levava o andor do Santo Cristo e enquanto seguiam na procissão iam venerando a Imagem em todas as igrejas. Foi na queda misteriosa, saindo da igreja dos Jesuítas, que a Imagem não caiu por algum dos lados do andor, mas sim caiu pela parte superior do docel. O povo ficou aflito, pedia a Deus misericórdia. A Imagem só ficou da­nificada no braço direito. A Imagem foi lava­da no Convento de Santo André e continuou a procissão, que se recolheu no Mosteiro da Esperança. 

Antecedendo e prosseguindo depois este pon­to alto, o mais solene das festas depois da res­pectiva missa campal, a face profana que a elas está associada anima as tardes e serões da zona poente da cidade, palco principal da reunião dos fiéis nos 4 dias em que duram as festividades. 

Com idêntica devoção, o culto ao Senhor San­to Cristo dos Milagres é celebrado pela popula­ção da Graciosa e pelos forasteiros que, no mês de Agosto, se concentram na Vila de Santa Cruz e que, para o evento, se engalana com os seus melhores ornamentos. 

Igual demonstração da religiosidade das gen­tes açoreanas é patente nos peregrinos que às Furnas se deslocam no primeiro domingo de­pois da Páscoa para assistirem à Procissão do Senhor dos Enfermos que, percorrendo as ruas da freguesia habilidosamente cobertas com multicolores pétalas de flores dispostas em ex­tensos tapetes de grande arte e beleza, vai de casa em casa levar conforto e esperança de me­lhoras àqueles que no leito sofrem com alguma resignação as agruras das suas enfermidades. 

A Procissão de São Miguel ou do Trabalho, no domingo seguinte a 8 de Maio, majestoso cortejo que à volta do andor do Santo Patrono, São Miguel, reúne vários artesãos agradecendo sucessos obtidos e pedindo novos alentos para as suas profissões e a Festa do Bom Jesus da Pedra, no último fim de semana de Agosto, am­bas em Vila Franca do Campo, são, de igual modo, manifestações sinceras da verdadeira fé dos seus peregrinos. 

Ainda em São Miguel e revelador do senti­mento religioso da sua gente, destaque para os Ranchos de Romeiros, grupos de homens que, em promessa, percorrem a ilha a pé du­rante oito dias, no período quaresmal, rezando junto de todas as igrejas e capelas que tenham um altar dedicado a Nossa Senhora, na que é considerada uma das grandes manifestações religiosas do povo da ilha, organizando cada paróquia o seu rancho. 

As Festas de Nossa Senhora da Assunção, Padroeira de ilha, que se realizam todos os anos no dia 15 de Agosto, em Vila do Porto, ocupam lugar de destaque no calendário festivo de Santa Maria, às quais está associado, de há alguns anos a esta parte, o Festival da Maré de Agosto. Este festival atrai à ilha muita gente, sobretudo jovens de outras ilhas, do continente e das comunidades de emigrantes açoreanos, para assistirem à actuação dos vários grupos musicais que lá se deslocam e às manifestações literárias e plásticas que, simultaneamente, lá se desenrolam. 

As Festas do Divino Espírito Santo que se rea­lizam por todo o Arquipélago, a partir do domin­go de Pentecostes e durante vários domingos, diferem nas suas características de ilha para ilha e mesmo de freguesia para freguesia, tendo no entanto de comum a Grande Coroação, pon­to alto das festas e a distribuição, em muitos casos graciosa, das típicas “Sopas do Império”. 

Na Terceira, toda a alegria e sentir do seu povo que irradia destas festas contagia toda a população da ilha, domingo a domingo e em cada freguesia, desde o Pentecostes até finais do Verão. O ponto alto das festas, essencial­mente de natureza caritativa e com objectivo principal de entregar o bodo aos mais necessi­tados, atinge-se com a distribuição das típicas e afamadas Sopas do Espírito Santo e da per­fumada Alcatra, confeccionadas ambas com a carne das reses oferecidas ao Espírito em cum­primento de promessas e acompanhadas pelo pão de mesa, pão de água e pão doce, massa sovada e aromático vinho de cheiro, tudo isto consumido pelos presentes em ambiente de grande alegria e animação. 

As festas terminam, sobretudo nas freguesias, com atribuladas e contagiantes “touradas à cor­da”, em que o touro, amarrado com uma corda que é manobrada por vários homens, percorre algumas ruas da localidade perseguindo os po­pulares mais afoitos que o desafiam e enfren­tam, perante as gargalhadas e aplausos dos que assistem. 

De 23 a 29 de Junho e em evocação aos Santos Populares – Santo António, São Pedro (Carvalhadas de São Pedro na Ribeira Grande) e São João, as Sanjoaninas da Terceira cons­tituem uma grande manifestação de cariz re­ligioso e popular, à qual se alia todo um rico folclore tradicional, traduzindo a simplicidade dos açoreanos, neste caso espelhada no povo terceirense. 

As “touradas de praça”, para as quais são chamado grandes nomes do toureio nacional e internacional que, a pé e a cavalo, fazem vibrar grandes assistências e as sempre animadas e hilariantes “touradas à corda” que alegram so­bremaneira quem a elas assiste, são ingrediente indispensável e muito apreciado no cartaz das Sanjoaninas que, sem dúvida, contribuem para a projecção do nome da Terceira para além das suas fronteiras. 

Na mesma altura do ano, o São João da Vila, em Vila Franca do Campo, com o desfile das suas bem organizadas, alegres e coloridas “marchas” que extravasam toda a alegria de vida dos jovens que as executam, é um espectá­culo que se tem vindo a firmar no cartaz festivo da ilha de São Miguel. 

Em São Jorge, além das solenes festas em honra dos padroeiros das diversas paróquias, a Romaria a Nossa Senhora do Carmo, na Fajã dos Vimes a 16 de Julho e a Romaria do Santo Cristo, na Fajã do mesmo nome no primeiro do­mingo de Setembro, fazem com que se reúnam naquelas Fajãs muitos fiéis em alegre e salutar convívio. 

Tendo como ponto central a devoção a Nossa Senhora de Lourdes, eleita padroeira dos ba­leeiros, a festa tem início na Vila das Lajes do Pico no último domingo de Agosto e prolonga-se por uma semana a que se chama Semana dos Baleeiros, durante a qual várias manifestações de carácter sócio-cultural ligadas à antiga acti­vidade da caça à baleia proporcionam momen­tos de vida diferentes do dia a dia das gentes da Vila. 

As Festas de Santa Maria Madalena, na Vila da Madalena a 22 de Julho e do Bom Jesus, a 6 de Agosto em São Mateus, são outras tan­tas manifestações dos sentimentos religiosos da população do Pico. 

A Festa das Vindimas, ao longo da primeira semana de Setembro e que evoca uma práti­ca centenária da população picoense, a cultura da vinha e a produção de afamados vinhos que chegaram mesmo à mesa dos antigos Czares da Rússia, é ocasião para a realização de ac­tividades culturais e desportivas que, naquele período, agitam a vida da Vila da Madalena. 

No Faial, das diversas festas religiosas que na ilha têm lugar, realce talvez mereça a dedicada a Nª Srª das Angústias, na cidade da Horta, con­siderada, se não a maior, pelo menos uma das maiores expressões da fé do povo faialense, con­gregando à sua volta não só habitantes de toda a ilha, como também gente do Pico que ao Faial se desloca propositadamente para nela participar. 

Ainda no Faial, o dia 24 de Junho é pretexto para convívio dos faialenses que, em romaria, se deslocam ao Largo Jaime Melo e aí festeja­rem o São João, ao som das tunas e filarmóni­cas durante algumas animadas horas. 

Viajando até à ilha das Flores, têm especial significado as celebrações religiosas nas Fes­tas Sanjoaninas, em Santa Cruz e na Festa do Emigrante, nas Lajes das Flores, bem como as festas dos padroeiros que decorrem em todas as freguesias, demonstração do sentimento religio­so que invade os Florentinos. Em especial des­taque Nossa Senhora do Rosário, nas Lajes das Flores, Nossa Senhora da Conceição em Santa Cruz das Flores e Nossa Senhora das Milagres no Lagedo, não esquecendo de referir ainda a Festa dos Reis na Fazenda e Nossa Senhora da Saúde na Fajã Grande. 

Evocando a padroeira da ilha, a população do Corvo celebra com grande devoção as Festas de Nossa Senhora dos Milagres, no dia 15 de Agosto de cada ano. E tal como nas restantes ilhas do Arquipélago, também aqui no Corvo as festas em honra do Divino Espírito Santo são vividas com grande entusiasmo e sentido reli­gioso da sua população. 

Dentre outras de carácter idêntico que, pe­riódica ou ocasionalmente, tenham lugar nos Açores, constituem interessantes manifestações sócio-culturais na Região

 

  • O Festival da Maré de Agosto que se realiza todos os anos a partir do dia 15 de Agosto, na Praia Formosa, em Santa Maria; 
  • A Semana Cultural de São Jorge, na Vila das Velas e o Festival da Música Jovem (Festival de Julho), na Vila da Calheta, que têm lugar, respectivamente, nos meses de Abril e Julho, em São Jorge; 
  • A Festa dos Baleeiros ou Semana Baleeira e a Festa ou Semana das Vindimas, que, respecti­vamente, se realizam nas Vilas das Lajes e da Madalena, no Pico, em Agosto e Setembro; 
  • A já famosa Semana do Mar, em Agosto, de­dicada quase exclusivamente aos desportos náuticos, não fosse a hospitaleira cidade da Horta, por excelência, a “capital dos iatistas” que, desafiando calmarias e tempestades na travessia do Atlântico, ao Faial aportam para reabastecimento e retempero de forças; 
  • A Festa do Emigrante, na Vila das Lajes das Flores, que se realiza na 3ª segunda feira de Julho (Feriado Municipal), numa altura em que a ilha, tal como o seu nome indica, se reveste de flores, é motivo para o convívio du­rante uma semana dos emigrantes que, este­jam de visita à sua terra natal. 

De cariz puramente recreativo, pelo colorido, alegria e são convívio que as caracterizam, me­recem destaque

 

  • As “Danças de Entrudo” que no Carnaval são levadas à cena nas diversas freguesias da Ter­ceira, em jeito de crítica social ou de recriação histórica e as sempre concorridas e movimen­tadas Touradas, de praça ou à corda, que fazem delirar os seus aficionados; 
  • O Carnaval da Graciosa, vivido com grande entusiasmo nos salões das associações e clubes locais, onde desfilam alegres grupos, desde crianças a adultos, trajando vistosas e imaginativas fantasias; 
  • Na Ribeira Grande celebra-se a Festa da Flor na primavera, a Festa de São Pedro em Junho e no dia 1 de Fevereiro a Noite dos Reis onde se canta as estrelas;
  • O desfile das várias Danças e Corsos Carna­valescos que nas várias ilhas e em várias lo­calidades animam o dia de Carnaval, com o colorido das suas fantasias e o “picante” das suas críticas sociais e políticas do momento. 

 

Diversas outras festas de feição popular têm lugar nas diferentes vilas e freguesias das ilhas, muitas delas animadas pelas sempre aprecia­das filarmónicas ou pelos típicos ranchos folcló­ricos trajando a rigor que, na sua alegria e fres­cura, entoam e dançam temas tão do agrado de quem os ouve, como por exemplo: 

 

 

  • A Sapateia, o Manjericão, o Balho-furado, o Pézinho-da-Vila, a Chamarrita, a Cana-ver­de, etc., de São Miguel, onde a viola da terra marca presença constante;
  • O Pézinho da Garça, a Moda do Moinho de mão, o Alfinete, o Balão, o Romance do Cego, os Mouros e o Eu fui acima da rocha, ao som da típica viola de arame, dos ferrinhos e de outros instrumentos de corda de S.Maria; 
  • O Sã-Macaio, a Tirana e as típicas e cómicas Velhas da ilha Terceira; 
  • O Caracol, o Larum-tum-tum e o Rema, do Pico; 
  • A Chamarrita Encaracolada, a Ciranda, o Pé­zinho de Baixo, etc., das Flores. 

E muitas outras harmoniosas melodias do rico folclore Açoreano, cantadas e dançadas com igual alegria, entusiasmo e graciosidade, nestes nove torrões vulcânicos espalhados no meio do imenso mar que os rodeia, que são os Açores.